quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Arquivo Morto | #2




Olá Morceguetes! 
Então, estava eu dando uma olhada em minhas pastas de histórias e fanfics, e achei este rascunho. Foi escrito no ano passado, na época eu queria muito escrever algo com sereias, continuo querendo. Trata-se de um romance entre uma sereia e um humano, onde Pérola, quase é pescada por caçadores de sereias e Zacky e sua irmã, lhe ajudam a fugir de tal destino. Eu, obviamente, não terminei, há apenas um capítulo e metade do segundo haha. Postarei para vocês, espero que gostem! 




Era mais um fim de semana daqueles em que eu e minha irmã, visitávamos nossos pais. Eles se separaram ha alguns anos, então visitamos mamãe no sábado e papai no domingo. – Expliquei. A mulher gorda a minha frente me encarava com atenção. – Mal sabia eu, que aquele dia mudaria toda a minha vida. Talvez você possa não acreditar em mim e me chamar de louco, mas eu juro por Deus, que tudo o que eu direi aqui, aconteceu...

. . .

Eu tinha dez anos, ou quase isso, mas sei que ainda era criança. Nossa família estava de férias na nova casa de verão que papai havia comprado, perto de uma floresta. Ele havia comprado, porque naquela região havia um mar denso, de águas cristalina, com milhares de peixes pra serem pescados, e claro, papai adorava pescar. Já estávamos ali havia uma semana, e papai nos levava pra pescar no pequeno barco que havia comprado, mas eu gostava mesmo era de andar pelas margens do rio, o problema era que cada vez eu me distanciava mais de nossa casa. Naquele dia em particular, eu decidi colocar os pés na água, mesmo que ainda não soubesse nadar. Enquanto eu me divertia, mexendo meus pés na água, ouvi algo extremamente maravilhoso. Alguém estava cantando, mas não era música alguma, não sabia distinguir o que era, mas me atraia como doce, me fazia dar passos avançados em direção ao mar, e quando a água atingiu meu peito eu parei. Senti a água se mexer, como se algo estivesse nadando ao meu redor, mas não senti medo, aquela música me acalmava. Mas quando o canto parou, eu pude perceber que logo mais a frente, emergindo da água havia uma mulher. Senti-me arrepiar, não pelo frio, mas sim pelos olhos brilhantes que ela tinha, era só o que eu podia ver. A mulher mantinha seus lábios e queixo em baixo d'água, não se revelando. Eu queria alcançá-la, e quando dei mais um passo, eu a vi sumir. Franzi a testa, estava confuso e o frio começava a me incomodar, afinal, já estava escuro.

Zacky! – Ouvi o grito de meu pai.

A voz de meu pai foi como um despertador, eu percebi o quão longe estava, o quão desligado eu estava da realidade. Girei os calcanhares e comecei a dar passos para fora da água. Logo meu pai me recebeu com uma toalha.

Sabe que não pode entrar no mar essa hora garoto! – Ralhou meu pai.

Me desculpe, papai... – Choraminguei.

O que seria de você se eu não tivesse te achado?! – Segurou em minhas mãos gélidas. – Uma sereia poderia ter te afogado!

Sereia? – Franzi a testa. A única vez que vi uma sereia fora no desenho da Dinsey, mas não imaginava a pequena sereia afogando pessoas e a levando para as profundezas do oceano.

Sim garoto! – Papai deu aquele sorriso enorme, como quando ia começar a contar uma de suas histórias. – Sereias, todas lindas com enormes olhos. Elas te enfeitiçam com seu canto suave e te atraem para água só para poderem te afogar.

É verdade mesmo? – Perguntei. Papai sorriu e afirmou com um aceno de cabeça.

Eu sorri de volta, mas na verdade estava assustado, afinal, eu havia escutado algo, havia visto algo na água. Depois daquele dia, nunca mais consegui nadar naquele rio com minha família, nem mesmo nas praias eu não me arriscava a ir tão longe. Mesmo que eu não acreditasse na história de meu pai, algo me dizia para não abusar da sorte que tive naquele dia.

. . .


Acha que papai vai nos levar pra pescar de novo?! – Amelie pergunta, me encarando com uma expressão tediosa. – Fazemos isso desde que eu nasci!

Amelie é minha única irmã, por mais que tenhamos cinco anos de diferença, sempre fomos muito grudados. Ela sempre foi minha melhor amiga, minha companheira, por isso, moramos juntos desde a separação de nossos pais. Mesmo que mamãe reclame dizendo que, eu já tenho vinte e sete anos, que já está na hora de arrumar alguém pra juntar os trapos. Bem, eu juntei os trapos com minha irmã, e isso já é o suficiente.

Você o conhece bem pra saber que sim. – Ri enquanto dirigia em direção a casa de férias, onde papai morava agora. – Só não entendi o porque de ele nos chamar tão cedo dessa vez...

Não é mesmo?! – Ela revirou os olhos. – Espero que não peguemos nenhum peixe, porque não estou nenhum pouco a fim de vê-lo estripando um peixe.

Gargalhei. Amelie nunca gostou muito dessa qualidade de papai, sempre preferia ficar fora das pescas, a não ser quando mamãe a obrigava. Mas agora, vendo que era a úncia coisa que nosso pai sabia fazer bem, ela preferia suportar a pesca apenas para ter a companhia do velho.

Quando chegamos, papai já estava no pier aprontando as coisas no velho barco. Ele usava um grande chapéu de palha, que me fazia rir, parecia muito animado enquanto arrumava as coisas. Quando nos viu, sorriu largamente acenando.

Hey velho! – Amelie gritou enquanto corria até ele.

Papai a abraçou forte, como se não a visse a anos, mas fazia apenas uma semana. Eu caminhei até o pier e finalmente cumprimentei meu pai.

É impressão minha, ou você está mais tatuado cada vez que te vejo, garoto? – Papai ri.

É o que acontece quando se tem um estúdio de tatuagem. – Dei de ombros.

Você parece bem animado hoje. Aconteceu algo? – Amelie pergunta desconfiada. – Não me diga que arrumou uma mulher! – Ralhou de modo ciumento, fazendo com que rissemos. – Porque você sabe que mamãe ainda gosta de você...

Filhota! – Papai revirou os olhos. – Não é nada disso...

Então o que é? – Perguntei erguendo a sobrancelha. – Até eu estou curioso...

Não se pode ficar feliz apenas com um dia ensolarado e com a maravilhosa visita de meus filhos?! – Ele nos encarou, e nos continuamos sérios por alguns segundos. – Okay! – Revira os olhos. – Encontrei algo no mar, e quero mostrar a vocês! É incrível! – Ele sorriu novamente.

Deve ser, pra deixar você tão contente. – Ri.

Não demorou muito já estávamos no mar, o motor do velho barco do papai estava menos barulhento do que eu pensava. Eu mal tinha percebido, mas ele não havia trazido as varas de pescas. Achei estranho, alias, meu pai estava muito estranho.

Ei velho, você tá comendo essas porcarias agora? – Amelie tirou um pequeno saco de balas de gomas e gelatinosas. Haviam mais coisas também.

São viciantes! Mas não é pra mim... – Sorriu. – Espere e logo vocês vão ver.

Não estamos muito longe? – Perguntei olhando para os lados. Me senti desconfortável, já que não gostava de me distanciar da terra firme.

Não consigo mais ver a cabana... – Comenta Amelie. – Além de velho está ficando louco, é?

Já estamos chegando! Deixem de ser chatos! – Disse revirando os olhos. Logo ele parou o barco perto de uma rocha. – Pronto...

Tá legal, o que é tão incrível assim, que você quer nos mostrar? – Amelie suspira.

Ela já vai chegar, espera! – Papai olhou o relógio de pulso.

Ela?! – Amelie esbugalhou os olhos e eu ri. – Você disse que não estava com ninguém!

E não estou! – Papai riu. Logo ele encarou o mar e sorriu. – Shh! Ela está vindo!

Amelie começou a resmungar, mas quando a coisa emergiu da água, ela se calou e até tapou a boca para impedir um grito. Já eu, bem, quando a vi fiquei paralisado, fui tomado por um breve dejávu, depois comecei a analisá-la. Era uma mulher, tinha a pele morena e molhada, seus cabelos eram cumpridos, caiam por seus ombros e tapavam parte de seus seios, a cor de seus cabelos era incrível, eram de um preto azulado, mas com um reflexo tão colorido e brilhoso. Seu rosto era lindo, olhos de âmbar, com um risco felino no lugar da menina dos olhos, seus lábios eram extremamente carnudos e rosados, e carregavam um sorriso que nos permitia ver seus dentes brancos. Era difícil digerir o quão linda ela é, mas o mais difícil era encarar a grande cauda balançando logo atrás de suas costas. Eu não podia ver tudo, mas podia ver a barbatana amarelada.

Puta que pariu! – Amelie ralhou.

Olá velho! – Ela disse se aproximando do barco.

E-ela... E-ela é... – Minha irmã estava mais branca do que o normal.

Uma sereia! – Papai gargalhou. – Ela não consegue falar meu nome, então ensinei-a a me chamar de velho...

Velho! – Repetiu a mulher na água.

Zacky, diz alguma coisa... – Amelie me cutucou.

Eu... Ainda estou digerindo... – Resmunguei.

Tudo bem, foi difícil pra mim também. Achei que era uma daquelas adolescentes com caudas de sereia, mas estava enganado... – Murmura meu pai. – Ela se chama Pérola...

Você deu esse nome a ela? – Perguntei ainda sem deixar de encarar a criatura.

Sim. – Respondeu o velho. – Ela não fala nossa língua, estou tentando ensinar a ela.

Ele então pegou um pacote de guloseima e abriu, os olhos da sereia seguiram o barulho, ela sorriu ainda mais e balançou ainda mais sua cauda. Aquilo me fez rir, talvez porque cheguei a comparar aquele ato com o de um cachorro.

Pérola gosta de doces, não é? – Papai estendeu a mão cheia de balas gelatinosas para fora do barco.

Pérola gosta! – Ela riu e esticou suas mãos pegando o doce.

Percebi duas coisas naquele momento. Primeira; A voz de Pérola era maravilhosa, e pareceu encantar não só a mim, mas Amelie também. Segunda; Suas unhas eram tão grandes quanto as de minha irmã, porém com um formato V, e entre seus dedos eu pude ver pequenas membranas.

Pérola, esses são meus filhos... – Papai a encarava como se ela fosse uma criança. – Zacky e Amelie. – Apontou para nós.

Olá! – Ela apoiou-se a beira do barco e sorriu. – Velho! – Apontou para o pacote de doces.

Cacete velho, como você a achou?! – Amelie pergunta.

Não fale essas palavras perto dela! – Ralhou papai. Mas Pérola estava entretida comendo os doces. – Eu vim pescar por aqui há duas semanas atrás, pra ver se achava uma espécie diferente, mas o motor pifou e eu fiquei aqui encalhado. Quando anoiteceu, Pérola apareceu, cantando. Eu ofereci a ela meus doces, conversei com ela e ela me levou de volta ao pier. – Ele encarou a morena e sorriu. – Venho encontrando com ela desde então.

Mas você sempre nos diziam que elas afundam os homens... – Murmurei.

Ela não me afundou. – Deu de ombros.

Isso é fascinante! – Encarei a sereia, que agora havia acabado com o pacote de doces. – Ela é muito bonita...

Existem mais como elas? – Amelie pergunta.

Pergunte a ela... – Papai deu de ombros. Amelie se encolheu.

Pérola? – Minha voz criou vontade própria. A sereia me encarou. – Você tem irmãs?

Irmãs? – Ela franziu a testa.

É... Igual a Pérola... – Apontei para sua cauda.

Ahh! – Ela sorriu balançando a cabeça. – Tem... Pérola tem!

Onde elas estão? – Perguntei.

Longe, bem longe. – Respondeu mexendo em seus cabelos. Mas logo seus olhos encararam meus braços. – O que é? – Pergunta puxando meu braço direito, seus dedos gélidos tocaram minhas tatuagens.

Eu deveria ter ficado assustado com a aproximação, mas acabei sorrindo.

São tatuagens. – Respondi, enquanto ela olhava os desenhos. – Você gostou?

Pérola gosta! – Sorriu me encarando. – Velho não tem! – Riu olhando para meu pai.

Não... E nem a magrela da Amelie! – Apontei para minha irmã.

Cala a boca, gordo! – Ralhou minha irmã.

Gordo! – Repetiu Pérola. Papai e Amelie gargalharam, eu acabei fazendo o mesmo.


Com o passar dos minutos, conversarmos um pouco mais, ou pelo menos tentamos, já que Pérola não entendia tudo o que falávamos, mas papai já havia ensinado a ela um bocado. Pérola comeu todas as guloseimas e lambeu os dedos quando acabou, parecia muito com uma criança. A sereia deixou que minha irmã tocasse em sua cauda, apenas Amelie tocou, acho que tal ato era muito íntimo para um homem fazê-lo, porém eu pude ver de perto as milhares escamas de sua cauda. A cor de sua cauda acompanhava a cor de sua pele e mesclava com um amarelo, me deixou totalmente hipnotizado. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário