terça-feira, 14 de maio de 2019

Arquivo Morto | #3





Olá Morceguetes!
Aqui está mais uma parte do projeto Everlasting. Isso é apenas um rascunho, pois inicialmente quis escrever algo medieval, porém, acabei me inspirando demais em Game of Thrones e eu não queria isso. Acabei ficando com pena de excluir, porque não achei ruim, então decidi compartilhar por aqui. rs.

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Lucien Rodwell

Lá estava ela, novamente, em seu sonho. Os cabelos cor de fogo voavam com o sopro do vento. Seus olhos verdes que tanto foram alegres, agora estavam tristes. Ela chorava. Podia sentir sua tristeza, dor e raiva, a cada lágrima derramada. A mulher de seus sonhos estava sofrendo. Nunca a vira assim antes, e isso foi o suficiente para lhe causar agonia. Sozinha, em um quarto escuro e gelado, ela olhava a lua cheia por uma pequena janela com barras de metal. Queria poder lhe perguntar o que ela estava fazendo ali, em um lugar tão sujo, porque estava tão triste. Queria poder ajudá-la.

Mas nem ao menos sabia se ela era real.

Acordou, ainda sentindo a imensa tristeza em seu peito. Surpreendentemente, seus olhos estavam molhados, ele tratou de enxugá-los. Retirou as peles que lhe cobriam e sentou-se na cama. Passando a mão pelo rosto, Lucien respirou fundo e levantou-se indo em direção a janela de seu pequeno quarto.

Estou louco!



Pensa. Sonhando com a mesma mulher por quase duas luas. A via em seus afazeres do dia a dia, sempre sorrindo, cuidando de sua horta e lavando seus vestidos. Ela era diferente, ele sentia que era, os olhos verdes e brilhantes lhe passavam um certo mistério, que Lucien queria desvendar. Mas então lembrava, que eram apenas sonhos que rondavam sua mente pela noite, ainda sim, quisera que fosse real. Quisera poder tocar a bela moça de seus sonhos e dizer a ela o quanto era especial. Sim ela era. Desde os primeiros sonhos, podia vê-la cuidando de pequenas crianças, também cuidava de animais, ele tinha a impressão de que ela até falava com eles, como se pudesse entendê-los. Era algo bonito de ver. Ele a via cozinhando também, sentia que ela gostava de fazer tal coisa, e cantarolava uma música, que parecia ser sua predileta. Lucien sabia a letra, pois a linda voz da mulher, ficava em sua cabeça quase que o dia todo.

Mas novamente, eram apenas sonhos. Nada era real.

Não podia se prender a uma fantasia, muito menos uma que envolvia uma mulher. E mesmo que ela fosse real, tinha um papel a cumprir, e não poderia desviar-se por um par de peitos e longos cabelos cor de fogo.

Ser um guarda da Fronteira, exigia muito. Estava longe, muito longe, de sua família, apesar de não ser bem querido entre eles. Muitas pessoas não acreditavam no mal que habitava do outro lado da Fronteira, não acreditavam nos exilados, Lucien já foi um deles, entrara na guarda da Fronteira apenas como desculpas para se ver livre de onde morava. Mas ao se aventurar do outro lado, ele conheceu a verdade, conheceu o verdadeiro mal.

Eles existem.

Não sabia dizer que tipo de criaturas eram aquelas, mas sabia que eram malignas, algumas até assumiam a forma de alguma pessoa, agindo como se quisessem fazer coisas boas. Mas era claro que aquelas criaturas apenas queriam derrubar a Fronteira e começar um longo reinado maldito. Graças aos Deuses, e a antigos Reis, a Guarda da Fronteira estava ali para impedi-los. E apesar de ser um caminho perigoso, era o que Lucien queria, e gostava. A distância de sua família também ajudava a manter-se confortável ali.

Porém, Lucien jamais imaginaria que tudo estava prestes a acabar.

Não dormira mais, teve receio de sonhar com a bela mulher e sentir toda aquela tristeza e raiva novamente, preferiu gastar suas últimas velas lendo um livro sobre os antigos cavalheiros de Malvern. Assim a noite foi-se rápido e a lua cheia cedeu ao sol. Lucien começa a se preparar para mais um dia no castelo da Fronteira. Seria um longo dia de treino aos recém-chegados. Porém, assim que se veste com suas pesadas roupas negras e joga sua capa por cima dos ombros, ouviu três pancadas na porta de seu quarto, abriu-a após pegar sua espada e colocá-la a bainha.

 – Lorde Rodwell. – O rapaz, recém-chegado na Fronteira, estava diante de sua porta.

– Não sou um lorde, garoto. – Lucien não gostava de como alguns dos homens insistiam em lhe fazer lembrar de quem era, e de sua família.

– Estão chamando o senhor na biblioteca. – Disse e se retirou.

Lucien não se demorou. Fechou a porta de seu quarto e caminhou entre os corredores do pequeno castelo, até finalmente chegar a biblioteca. Um lugar que recebia poucas visitas, pois os homens estavam ocupados com treinamentos e vigias, mas ele sempre gostou de passar por ali vez ou outra, pegar algum livro para alimentar sua mente. Uma irritante mania que adquiriu por culpa de sua irmã mais nova.

O Comandante Nortem e o Mestre Bowe lhe esperavam sentados a uma grande mesa repleta de livros e mapas abertos. O mais velho, Mestre Bowe, era o curandeiro da Guarda, e também recebia cartas e notícias de todo o reino. Neste momento, Mestre Bowe segurava uma carta, o selo que havia nela logo lhe chamou atenção, fez com que seu coração tremesse e seus dentes forçassem uns aos outros.

– Comandante.

Lucien parou diante a mesa, ainda de pé e com sua postura ereta, digna de um bom cavalheiro.

– Recebemos uma carta do Rei. – O Comandante lhe encara sem expressão alguma. – Você deve voltar para o Castelo de Malvern.

– Não estou interessado.

– Não é um pedido, é uma ordem. Uma ordem do Rei, seu pai. – Mestre Bowe estica a mão trêmula, lhe oferecendo a carta.

Lucien a pegou e sentindo uma pontada de raiva, passou a lê-la.

A meu filho, Lucien Rodweel, ordeno que encerre suas obrigações para com a Guarda da Fronteira e volte para o castelo de Malvern. Estou acamado e incapaz de cuidar de meu reino, eu o confio a você Lucien. Apenas a você.

Rei Gregory Rodweel II


As poucas letras de seu pai foram o suficiente para lhe irritar. Bufou, amassando a carta em suas mãos e jogando-a em qualquer canto. Era típico de seu pai dar ordens a ele, como se fosse um de seus vassalos. Lucien não esperava que fosse amado como suas irmãs, afinal não passava de um bastardo. Mas desejava que fosse tratado com respeito, que seu pai lhe tratasse como um homem e não como um garoto de dez anos.

– Nem pense em recusar, Lucien! – Exaltou o Comandante.

– Não vou quebrar meu juramento por um capricho de meu pai.

– Não seja tolo, garoto! Isso não é nenhum capricho! – O Comandante Nortem deu alguns passos irritados em sua direção. – O Rei não foi claro o bastante?! É de toda Malvern que estamos falando!

– Minha madrasta pode cuidar muito bem disso.

– Que os Deuses nos livre disso! Quer colocar o reino nas mãos de Ruth? – Nortem fez uma carranca de desgosto. – Não é preciso viver naquele castelo para saber que a Rainha Ruth não passa de uma mulher fútil. Ela não conseguiria, nem se quisesse, governar Malvern.

– Pare de lutar contra isso, meu jovem. Liderar é seu destino. – Mestre Bowe lhe encara com seu sábio olhar.

Lucien engoliu a seco. Não tinha como se opor a isso, eles tinham razão. Sua madrasta não daria conta de governar o reino. Ela não ligava muito para esse tipo de assunto, e claro, havia as línguas venenosas e manipuláveis que podiam lhe cercar a qualquer momento. Por mais que não gostasse da mulher, não queria que ela caísse em ruínas e levasse o reino consigo.

– Deixarei a Guarda da Fronteira hoje mesmo. – Lucien acenou a cabeça e deu as costas.

Voltou para seu quarto, contendo-se para não quebrar os poucos moveis que havia ali. Balançou a cabeça, e passou a mão por seus cabelos. Depois de sete longos anos servindo à Guarda da Fronteira, depois de tanto tempo longe de sua família, estava finalmente voltando. Talvez no fundo já soubesse que esse dia chegaria, afinal, seu pai tivera apenas filhas mulheres, e nem mesmo elas passavam a sua frente na sucessão do trono, mesmo que fosse um bastardo.

Aceitar, era o único modo.



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